Maternidade e Paternidade hoje

Desafios e perspectivas

Ao longo dos anos, a sociedade transformou-se muito e, consequentemente, os papéis dos sujeitos que nela vivem também. Os papéis femininos transformaram-se e deram à mulher um novo  status na sociedade e, em decorrência disso, muitas exigências. Os papéis masculinos também mudaram e, em razão disso, a concepção de paternidade deslocou-se. Se, antes, a organização  familiar exigia da mulher dedicação exclusiva ao lar e exigia do homem a responsabilidade de prover recursos materiais, hoje essas funções permeiam-se e criam novas configurações sociais. Ser mãe e ser pai, hoje, é muito diferente de como era há menos de um século.

Duas pesquisadoras brasileiras realizaram, em 2010, uma pesquisa sobre mulher, trabalho e maternidade1. Entrevistaram 45 mulheres executivas sobre realização profissional e maternidade na contemporaneidade. As entrevistadas ocupavam cargos de extrema complexidade e cumpriam uma jornada de trabalho de 14 horas por dia. Quando questionadas sobre como se relacionavam com a maternidade, parte delas estava em um momento de construção de um novo olhar sobre si e sobre o mundo, sem que vivenciasse exatamente uma situação conflituosa; já a outra parte enfrentava conflitos internos e externos. As pesquisadoras apontaram, nesse estudo, como os resultados que obtiveram revelavam um momento histórico complexo e contraditório para esse perfil de mulheres, divididas entre o desejo de se afirmarem como protagonistas que constroem história junto com os homens e entre o desejo de se dedicarem à maternidade e ao acompanhamento do desenvolvimento dos filhos. Ao mesmo tempo em que o trabalho oferecia oportunidades de maior qualidade de vida para elas e para os filhos, também dificultava o convívio com eles. Esse impasse é um fator importante e muito presente na vida dessas mulheres. As entrevistadas enfatizaram que estavam em busca de novas formas de construir suas identidades sem abrir mão do contexto profissional.

As transformações dos papéis femininos acarretaram também o deslocamento dos papéis masculinos, contribuindo, assim, para desestabilizar a representação “tradicional” de masculinidade e de paternidade. Atualmente, a experiência de ser pai implica – segundo o estudo “A paternidade na contemporaneidade”2 – um desejo de maior diálogo e de intimidade com os filhos. Revela-se uma grande preocupação dos pais da atualidade em romper com formas e concepções de seus pais e avós, enfatizando a necessidade dese reconstruir o papel do homem na família. Para se definir novas atitudes de participação no cuidado e na relação com filhos(as), o ideal antigo de masculinidade é insuficiente, já que a paternagem contemporânea está conectada a afetos e a prazeres – e não mais à autoridade e à honra. Os homens que se tornam pais e assumem os desafios e responsabilizades dessa função não estão mais somente preocupados em prover o alimento e a estrutura material, mas em criar vínculo e participar do desenvolvimento dos filhos. Essas profundas transformações na função materna e paterna implicam rearranjos sociais, econômicos e culturais. A mulher não se dedica mais exclusivamente à casa e ao lar; o homem também não é só provedor e dedicado à sua profissão. Os papéis femininos e masculinos estão, na contemporaneidade, sendo reconstruídos. A nova geração de crianças e de jovens está sob influência desses fatores e é, também, parte constituinte dessa transformação.

Ser mãe e ser pai, hoje, exige flexibilidade e adaptação em um mundo em constante mudança. Por isso, os desafios fundamentais da atualidade incluem o fato de as mulheres não abrirem mão de sua profissão para a maternidade, nem de os homens abrirem mão da paternidade em detrimento da sua profissão, atingindo-se, assim, um equilíbrio benéfico tanto para eles quanto para seus filhos. O desafio está mais do que lançado!

1MALUF, Vera Maria Daher. KAHHALE, Edna Severino Petters. MULHER, TRABALHO E MATERNI-
DADE: UMA VISÃO CONTEMPORÂNEA. Polêm!ca, v. 9, n. 3, p. 143 – 160, julho/setembro 2010

2Hennigen, I.; Guareschi, N.M.F. “A paternidade na contemporaneidade: um estudo de mídia sob
a perspectiva dos estudos culturais”. Psicologia & Sociedade; 14 (1): 44-68; jan./jun.2002
CARVALHO, Ângela Sousa de. LOPES, Ana Raquel Soares. Tornar-se Mãe: considerações acerca
do lugar da maternidade na contemporaneidade. Rev. FSA, Teresina, v. 14, n. 2, art. 9, p. 146-170,
mar./abr. 2017